terça-feira, março 21

Madlib; "Shades of Blue"

Se há instituição na cultura afro-americana que conquistou um estatuto superior essa é a Blue Note, por isso quando ela estende a mão a alguém é porque essa pessoa já tem mérito suficiente para o justificar. Não é de estranhar, portanto, que quando a Madlib foi permitido o acesso ilimitado a todo o catálogo da Blue Note, muitos vissem essa união como feita nos céus, e o resultado assim o prova.
O seu toque de midas (muito procurado para trabalhos de produção) por vezes é realmente do outro mundo, bem notório no tema "Mystic Bounce", em que ao clássico "Mystic Brew" de Ronnie Foster, Madlib acrescenta o seu groove muito funky. A intervenção é apenas a estritamente necessária para transformar uma música, que já por si é muito boa, em algo de realmente extraordinário.
Madlib não se limita a samplar os clássicos temas e a sobrepôr batidas, ele efectivamente acrescenta-lhes algo mais e, com o devido respeito por estes eternos clássicos, ele torna-os melhores. Melhores, ou pelo menos diferentes (o que, no que toca aos standarts jazzísticos, já é dizer muito), dando-lhes nova roupagem ao inclui-los no seu próprio estilo e sonoridade.
De facto, não fossem as já habituais críticas dos puristas do jazz sempre que há um breaktrough na sua evolução (ou sempre que surge alguém com maior discernimento), este seria considerado como um daqueles discos que traçam novas rotas ao inesgotável jazz (e não remetido para o hip-hop), portanto sujeito a críticas por parte daqueles que não compreendem que o jazz não é um estilo hermético, antes partilha o mesmo espírito inquieto do rock que o obriga a crescer e a procurar sempre o que se esconde para além do horizonte visível.
Ignorar a importância deste disco para a história do hip-hop, e mesmo para a do jazz, é ignorar igualmente a imensidão de elaboradas exigências técnicas evidentes num produtor deste calibre como o de Madlib, e já nem falo do enorme conhecimento musical necessário para um disco que, no contexto da história da música negra, destaca a importância do todo e da interdependência das partes, sendo por isso visionário.
Dito isto, há-que amenizar o temor que possa ter provocado ao salientar a importância deste LP, dizendo que este é, pelo menos, um disco pleno de groove e muito mellow, ideal para qualquer dia de sol primaveril, e que se ouve com muita facilidade. Portanto, façam-no!


Mystic Bounce
Montara

1 Comentários:

At 16:40, Blogger LAD escreveu...

Song for my father...
Don Ho no seu melhor!

 

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