Farmers Market
A escola nórdica de jazz tem-se distinguido nos últimos anos como uma das mais prolíficas e também pelo elevado nível técnico exibido pelos seus intérpretes. Na minha opinião é já o principal contrapeso à vertente americana, não só pelo já referido mas também pela diversidade, colorido e frescura que acrescentam ao mundo do jazz. Estou em crer que esta originalidade deve muito a condições históricas e políticas que tornam o norte da Europa muito mais receptivo às influências do leste da Europa, ao contrário do jazz francês de influências latinas e americanas, e que até aos anos 50/60 assumia-se como a principal escola de jazz da Europa.
Está criado o enredo para o surgimento dos Farmers Market, um projecto do guitarrista Stian Carstensen que começou como um quinteto de free-jazz, mas que depressa se virou para a música de leste, mais concretamente a música tradicional búlgara, e mais tarde também a música romena. As novas possibilidades deste vesúvio musical, com estruturas métricas estranhas e não-lineares, escalas orientais e múltiplas soluções para improvisação, aliadas ao exigente jazz nórdico, tornaram-se os principais ingredientes da música desta banda norueguesa. Rapidamente Stian Carstensen, impulsionado pelos restantes membros da banda, abraçou o acordeão como veículo preferencial de expressão, que esteve na génese da sua formação musical, e que só abandonou quando entrou no Departamento de Jazz do Conservatório de Trondheim.
O 3º álbum, de nome homónimo, é o 2º com o saxofonista Trifon Trifonov, um búlgaro que fez carreira a tocar em circos por todo o leste europeu, e que foi recrutado para os Farmers Market depois de uma insólita e lendária jam-session pelo telefone, entre Noruega e Bulgária. Este álbum, muito mais maduro e coeso que os anteriores, recolheu críticas positivas de inúmeras publicações europeias, especializadas em géneros tão distintos como o folk, o jazz ou o rock, e diz-se que tirou um entusiasmado Mike Patton da cama e disparou-o para o telefone mais próximo, a fim de contactar os Farmers Market para uma colaboração que, em princípio, estará a caminho.
O nível técnico das interpretações continua ao mais alto nível, a par dos restantes albúns, mas neste há mais espaço para os músicos respirarem, mais espaço para os pormenores. O virtuosismo é posto um pouco de parte para dar lugar à fluidez. E num albúm que conta com imensos músicos convidados, desde percussionistas indianos, solistas búlgaros ou até as arrepiantes vozes das Angelite, isso é importante. No entanto, a complexidade melódica e as métricas irregulares ainda estão presentes, mas basta ouvir os primeiros dois minutos da última música para se perceber o que é a essência deste disco, baixar as defesas, e apreciá-lo.
2 Comentários:
Quero ouvir!
eu empresto-te.
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