Rádio Pirata
A voz de um colectivo cultural sem eira nem beira, fora-da-lei e clandestino.
sábado, maio 27
sexta-feira, maio 26
Sem ter o brilhantismo de Samuel Mira, aka Sam The Kid, o primeiro LP de Sir Scratch agrada aos ouvidos de quem como eu não suporta o hip-hop "luso made in guetto foleiro". Claro que Sir Scratch não é o "fashion bairro de lata a atirar prá classe média hip-hopper" que Boss Ac tão bem exemplifica na cena portuguesa. Não há ilusões: Sir Scratch vem da rua mas tem a arte de, mesmo vindo da rua, não se comportar, compor ou escrever, como um rapper da rua. Sem preconceitos, caros leitores. Rua não significa tout court ausência de qualidade. Mas pode significar temas repetitivos e desinteressantes, o que não ocorre neste álbum.
Aconselho a escuta, sobretudo as músicas germinadas no quarto mágico de Samuel Mira.
quarta-feira, maio 24
segunda-feira, maio 22
Do contrabando
Ouvi dizer que o Contrabandista nos ia contar uma das suas histórias de fronteira. Quem o conhecer que lhe diga que o microfone já está ligado. Pode falar em canal aberto.
sábado, maio 13
quinta-feira, maio 11
Madvillain; "Madvillainy"
A tão esperada colaboração entre o produtor Madlib e o mc MF Doom resultou num dos melhores discos de hip hop de 2004, e isto num ano em que, entre os dois, lançaram mais de oito albúms. Madvillainy reúne 22 histórias urbanas sobre vilões e heróis, contadas numa (quase) demente e desarticulada 1ª pessoa, e é um daqueles raros discos que nos obriga a reajustarmo-nos para o acomodarmos. O estilo imprevisível das letras de MF Doom parecem encaixar como uma luva nas estruturas irregulares dos loops e batidas samplados dos mais obscuros discos de jazz e (aparentemente) séries televisivas de culto como o "Batman", ou até de filmes dos anos 40. Aliás a irregularidade métrica das rimas e batidas parece ser não só uma característica mas igualmente um ponto de honra. Parecem até ter orgulho na recusa do típico refrão catchy r'n'b, ou da rima mais fácil que fica no ouvido. Não é que as músicas não tenham estrutura - esta existe, só não é imediata. Há-que ouvir para a conseguir perceber. O ouvinte é assim, de alguma forma, convidado a encaixar as peças que faltam deste puzzle, e essa é um dos prazeres escondidos que só se revelam após repetidas escutas deste disco, pois este começa assustadoramente a fazer sentido quanto mais se ouve.
Madvillainy não é um albúm inacessível, mas exige dedicação para se tirar o maior prazer de escuta.
Accordion
Rainbows
Curls
Great Day Today
terça-feira, maio 9
segunda-feira, maio 8
I Want You
O que é que Bob Dylan, Jon Bon Jovi(!), Tom Waits, Erykah Badu, Elvis Costello, Sheryl Crow, Burt Bacharach e John Lennon têm em comum? Uma música chamada "I Want You". Muitos mais músicos terão utilizado este título. Há aproximadamente 500 músicas diferentes de artistas com discografia conhecida. É provável que até o Marco Paulo tenha uma música chamada "Quero-te", e se não tem, devia.
O que eu quis fazer foi eleger, em regime ditatorial, a melhor, a mais terrífica e arrebatadora música com este nome. Deixei os Beatles de fora e se entrassem desqualificava-os, até porque não podiam entrar nesta contagem sabotada desde o ínicio, porque a música deles se chama: I Want You (She's So Heavy).
Assim apresento o grande vencedor: Marvin Gaye!
Tudo começa com uma introdução longa com uuuhhh's, da ra ras's, ta ra ta ta's, uh uh uh's, aaaauu's, so good's e depois, depois o resto é "conversa". Não das que elas mais gostam de ouvir, mas ainda assim conversa. "Querer" não chega para Marvin Gaye. Ele tem que se explicar, lamentar, realizar, suspirar, gritar, esperançar, gostar, esperar, mudar, chamar. E isto ele faz muito bem, no meio de guitarras que electrificam a sua inquietação, no meio de uma orquestra de cordas e metais, no meio de uma bateria incisiva ao fundo da sala e do baixo que faz companhia, no meio de uuhhhh's, oohhh's, aaahhhh's, yeah's, no meio do piano Rhodes que nem na sala está, e atravessa as paredes da casa quando lhe apetece.
Assim esta eleição é eterna e definitiva, porque como esta música, sem altos e baixos, continua em linha recta, a suspirar e a gritar e a acabar em "fade out" por motivos óbvios. Se fosse eu a mandar, não acabava.